Ilusões da vida (Francisco Otaviano)
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.
terça-feira, 6 de julho de 2010
O Tempo e o Amor
Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba;
Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera!!
São as feições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito...
São com as linhas, que partem do centro para a circunferência, que quanto mais continuadas, tanto menos unidas.Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque não há amor tão robusto, que chegue a ser velho.
De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo;
Afrouxa-lhe o arco com o que já não atira; embota-lhe as setas, com que já não fere; abre -lhe os olhos, com que vê o que não via; e faz lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão natural de toda essa diferença é, por que o tempo tira a a novidade das coisas;descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas.
Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor!!
O mesmo amar é causa de não amar, e o ter amado muito, de amar menos.
Sermão do Mandato 1643, Padre António Vieira.
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